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COVID-19: CARTA ABERTA A SOCIEDADE

Em 2020 a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) paralisou o mundo e em Sergipe não foi diferente. A Enfermagem ganhou destaque, muitos trataram da importância desta categoria de papel fundamental para a saúde e para a vida. “Heróis”, “anjos” e “guerreiros”, estes foram alguns dos inúmeros títulos recebidos por estes profissionais que compõem a espinha dorsal da instituição de saúde. Neste período delicado, o mundo agora parecia compreender e reconhecer a Enfermagem. Parecia… Pois abstendo-se de qualquer injustiça com os que apoiam a classe, é possível afirmar que a realidade vivenciada por estes profissionais permanece completamente destoante e indigna dos adjetivos conquistados.

São muitas as dificuldades e dores enfrentadas para quem atua na Enfermagem. Sobrecarga de trabalho, escalas exaustivas, tudo para suprir as lacunas existentes há anos e que se agravaram com a chegada inesperada do novo coronavírus. Assim como os demais profissionais de saúde, a Enfermagem sofre com perdas de seus direitos durante o enfrentamento da Covid-19. Sem férias ou licença, por conta do período crítico, e padecendo com baixos salários e contratos precários, a categoria encontra-se adoecida. Mesmo diante de todo empenho e de sua importância para a saúde brasileira, os trabalhadores da enfermagem não contam com testes em massa e encontram-se sem acesso ideal à saúde e a melhores cuidados. A cruel metodologia de ‘mais sobrecarga e menos (ainda menos) direitos’ impacta a categoria.

Não suficiente, os profissionais precisam lidar com restrições físicas, insegurança, pressão psicológica, tentativa diária de equilíbrio emocional, hiper vigilância, enfrentamento da frustação de, por muitas vezes, não conseguir o resultado que espera. Os reconhecidos “heróis” ainda precisam lidar com o real medo de contaminação, cientes da possibilidade de não contar com uma assistência bem estruturada e que ainda poderão levar para dentro de casa o inimigo que tanto combatem.

Não fossem suficientes todas estas questões, esses dedicados profissionais assumem a linha de frente, inúmeras vezes, sem contar com o mínimo de suporte para desenvolverem suas atividades, sendo um deles, em determinadas situações, a ausência de Equipamentos de Proteção  Individual (EPIs) necessários – estes quando existentes, por vezes, são escassos e/ou inadequados e/ou apresentam problemas de dispensação.

Não há comunicação efetiva e apoio devido por parte de determinados gestores públicos e privados. Além das criticidades já citadas, o que se vê são profissionais de risco sem o devido afastamento, em escalas inadequadas ou acometidos por demissões injustas sem garantia de recebimento de seus direitos.

E mais: as entidades de classe e profissionais questionam cotidianamente onde está o direito à insalubridade em grau máximo sobre o salário base daqueles que estão diuturnamente dedicam suas vidas para salvar outras. O Projeto de Lei n°744/2020, que tramita no Congresso Nacional e que trata da matéria, por exemplo, permanece sem aprovação. Em Sergipe, já foram realizadas várias indicações sobre o assunto, através de parlamentares estaduais e municipais. Infelizmente, nenhum gestor do poder executivo encaminhou para votação qualquer projeto referente ao direito adequado de insalubridade tão almejado pela categoria.  Ao contrário, a realidade é de funcionários sem estes direitos, inclusive, afastados ao serem acometidos pela Covid-19 com qualquer remuneração e reconhecimento.

As entidades de classe e profissionais reivindicam, concomitantemente, por transparência e melhorias nos métodos adotados por gestores públicos para publicizar informações acerca do adoecimento dos Profissionais de Saúde. Existe uma discrepância entre a realidade vivenciada pelos trabalhadores e os dados divulgados pelas autoridades. A exemplo disso, temos o quantitativo divulgado sobre os profissionais de saúde suspeitos ou confirmados para a Covid-19. Alguns resultados chegam a diferenças de mais de 200% entre os dados estatísticos repassados pelos gestores e os verificados pelas instituições da categoria.

A questão salarial é outro impasse enfrentado e que, mais do que nunca, deveria ser considerada como urgência, uma vez que o mundo observa que sem a Enfermagem, o sistema de saúde enfrentaria sérios problemas de viabilidade.  Aos gestores públicos e privados, esclarecemos, não buscam os aplausos, buscamos dignidade, condições de trabalho, respeito e reconhecimento justo equiparado ao desempenho exercido.

Mesmo com dados subnotificados, o Brasil alcançou o patamar de país com maior número de mortes de profissionais de enfermagem em todo o mundo. Apesar de Sergipe ter conquistado a façanha de não registrar nenhum óbito de profissionais da categoria até o dia 25/06/2020,  isso, sem dúvida alguma, não é mérito do Poder Executivo e empregadores, mas sim, destes guerreiros que compreenderam a gravidade da doença e que se fazia necessário reinventar-se, capacitar-se e empenhar-se com os devidos  cuidados, diante da calamidade estrutural e organizacional encontrada no Estado para combater a pandemia que assola o mundo.

Por mais que entidades de classe lutem pela categoria, barreiras legais e burocráticas as impedem de fazer mais, por este motivo, nesta carta aberta, reivindicamos mais ação e menos publicização, menos discursos e mais desempenho, diligência. Deixamos o apelo às autoridades para que olhem por estes profissionais. Quantos mais de nós precisarão morrer para que este quadro mude? Neste mês perdemos uma colaboradora do administrativo do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), que também era estudante de Enfermagem, e recentemente perdemos a primeira profissional de enfermagem que atuava no enfrentamento da Covid-19 e que padeceu da doença. Para nós, este número já é o limite.

COREN-SE, SEESE, SINTAMA, ABEn e Sintasa.

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